Na doutrina do Santo Daime existem três principais símbolos, ou
referências simbólicas, que não se constituem em iconografia.
Discorreremos brevemente sobre cada um deles.
Um símbolo central do Santo Daime é o Santo Cruzeiro, fincado em
tamanho gigante, à esquerda de quem adentra o templo e orna também a
mesa de centro do salão de serviços. Um traço doutrinário distintivo
é que esta é a Cruz de dois braços, ou Cruz de Caravaca.
A Cruz de Caravaca surgiu na história da cristandade pela primeira
vez em 1232, na cidade espanhola de Caravaca, em Múrcia. No Brasil, a
Cruz de Caravaca chegou há muito tempo, trazida pelos primeiros
colonizadores, na esquadra de Martin Afonso de Souza.
Tida como um poderoso amuleto, passou a ser adotada pelos cruzados,
templários e missionários como símbolo de proteção. Popularmente os
dois braços significam fé redobrada. É comum ouvir os daimistas
dizerem que o segundo braço significa o retorno do Nosso Senhor Jesus
Cristo.
São muitas as interpretações: para os esotéricos, por exemplo, o
lenho vertical significa a cruz do espírito; e o lenho horizontal
simboliza o plano material, tendo como resultado o Homem, que é um
ser que se move no plano material com opção para ascender ou
descender espiritualmente. A cruz lhe recordará a sua posição na
escala evolutiva, e fará com que se centre no cruzamento do espírito
com a matéria.
Ao lado da Cruz de Caravaca, a doutrina do Santo Daime também adotou
o Santo Rosário católico. A palavra Rosário origina-se de rosa, flor
da roseira. O Rosário é uma enfiada de 165 contas, correspondentes ao
número de quinze dezenas de ave-marias e quinze pais-nossos para
serem rezados como prática religiosa, entremeado da contemplação dos
mistérios da vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo, sempre
relacionando essa caminhada com a Virgem Santíssima.
A devoção do Rosário teve o seu reflorescimento com as aparições de
Nossa Senhora em Lourdes, na França (1.858) e Fátima, Portugal
(1.917). Os rituais daimistas de Hinário (bailado) iniciam-se com a
reza do Terço – a terça parte do Rosário – e logo após o rosário é
depositado pela "puxante" no Cruzeiro da mesa de centro, o abraçando.
A oração do Santo Rosário é considerada uma benéfica prática,
impregnada de humildade, renascimento, caridade, pureza, penitência,
perdão, perseverança, devoção e fé na salvação eterna.
Outro importante símbolo doutrinário é a representação da lua
crescente com uma águia pousada no centro. Este símbolo está presente
na bandeira do Santo Daime; pode compor a insígnia portada no peito
direito do adepto – no centro da estrela de Salomão – e como elemento
simbólico e decorativo do salão da sede de serviços.
Esta é a representação simbólica do mito fundante da doutrina, quando
numa noite de lua cheia uma Senhora apareceu para o jovem Irineu
Serra dentro da lua. "E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher
vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze
estrelas sobre a sua cabeça". [8]
Consagrada como Mãe, Rainha, Lua Branca - identificada com a Virgem
Mãe Católica, Nossa Senhora da Conceição, a Senhora passa a lhe
entregar a doutrina do Santo Daime através dos hinos, que são as
revelações dos mistérios divinos.
A Estrela de Salomão ou o "Selo de Salomão" é uma outra referência
muito significativa para "os soldados do exército de Juramidam", pois
este é o símbolo que ostentam no peito. Também conhecido por escudo
ou estrela de David, é uma estrela de seis pontas, formada por dois
triângulos equiláteros, um perfeitamente invertido em relação ao
outro, que contém, entre vários atributos, os quatro elementos
alquímicos: o fogo no vértice superior, a água no vértice inferior, o
ar na reentrância à esquerda, entre os dois triângulos e, por fim, a
terra na correspondente reentrância à direita.
O hexagrama que é o Selo de Salomão reúne, na sua totalidade, além do
conjunto dos elementos do universo, as qualidades fundamentais da
matéria. Estas situam-se nas pontas laterais da estrela e
correspondem-se, duas a duas, com os elementos: quente e seco para o
fogo; frio e úmido para a água; quente e úmido para o ar; e frio e
seco para a terra. Assim, na tradição hermética, o Selo de Salomão
pretende exprimir, na sua aparente simplicidade, a complexidade
cósmica.
O hexagrama também pode reunir os sete metais básicos: o chumbo, o
estanho, o ferro, a prata, o cobre e o mercúrio - nas pontas da
estrela e rodando segundo os ponteiros do relógio - e, ao centro, o
ouro. O domínio alquímico desses elementos, na ciência esotérica,
permite ao iniciado mover conscientemente o seu corpo astral e viajar
com ele do plano físico a planos astrais superiores. O vôo astral que
o Daime possibilita.
Além desses signos aqui postos, admite-se no salão de serviços
daimista fotos do fundador da doutrina e de adeptos proeminentes,
alguns já falecidos, que contribuíram para a formação da irmandade.