terça-feira, 2 de junho de 2009

COSMOGONIA



No início era o Verbo e pelo Verbo foram criadas todas as de coisas. Da Noite Eterna brotou a Luz e daí contou-se o tempo pela passagem dos dias e das noites. A Terra, juntando-se, deu a estrutura das coisas, o chão para que as coisas pudessem se assentar. Dela brotou os Metais, dos mais aos menos nobres. Infiltrados no interior da Terra lançaram-se como facas cortantes para o exterior. Derretidos pelo calor do sol, banharam toda a superfície da Terra em mares e rios para acalmar o seu calor. Da água brotou a Vida, e os dez mil seres andaram sobre a Terra. As plantas, os peixes, os pássaros, os insetos, os lagartos. Dentre eles, estava o Homem um ser que tinha consciência de sua própria existência. Essa consciência, em sabedoria, fazia-lhe viver em equilíbrio com os outros dez mil seres, posto que se lhe havia dado a Inteligência. Uma espécie de fogo que lhe ardia as entranhas. Um coração apaixonado pelas criações do Verbo.

Seu intelecto permitia um olhar diferenciado sobre as coisas. Um eterno olhar de estréia em tudo que lhe era apresentado. Uma admiração, um encantamento com o mundo ao redor em mínimos detalhes, desde o mais suave toque de uma pétala de rosa até a apreciação do espetáculo de cores de um pôr do sol, do poderoso zunir de um trovão até o toque frio dos pingos de uma chuva fina. A ingenuidade de sua potência o fazia caminhar pelas mais ensolaradas veredas e subir aos mais gelados cumes do mundo sem ao menos diminuir sua crença de que ele fazia parte de tudo aquilo que o rodeada, e que tudo de pequeno ou grande tinha a sua importância.

O Homem descobrindo que podia criar expandiu-se para todo lado. Pois a Inteligência, a mesma Inteligência que o habitara no início, falou-lhe nos ouvidos: “— É hora de dominar! É hora de sair e subjugar! Já é hora de crescer, crescer e multiplicar! Seu tempo é agora, pois a morte se aproxima”. Assim o homem cresceu em altura e força e criou a sua imagem e semelhança um ser, um ser que de si mesmo nasceu, dominador, sabedor de seu destino, o destino que aguarda a todos, a Morte.

Acabou-se o tempo de infância. Onde se estabeleceu, explorou. O que era do mundo agora era dele. Ele era o dono das coisas, dos dez mil seres, e deles fazia o que quisesse. Antes admirava a planta agora a derrubava e a abria para entendê-la melhor, não mais se fascinava com o vôo dos pássaros e sim criava máquinas para imitá-los, não mais se admirava com um luar despretensioso, mas queria poder alcançá-la e fazer dela seu território. E assim foi feito.

O mundo virou uma máquina, uma engrenagem de relógio. Tudo nele podia ser medido, determinado e previsto. Foi quando o Homem em sua Inteligência acreditou que era Deus, e “a sua imagem e semelhança” ergueu o mundo da técnica, dos prédios de concreto, dos carros e suas fumaças, das fábricas e suas chaminés, do consumo desmedido, da criminalidade e das guerras... Guerras raciais, religiosas... Guerras pelas riquezas alguns povos e pela pobreza de outros.

Tal desequilíbrio refletiu-se no Planeta e seus dez mil seres agora sofrem suas conseqüências. Os rios estão morrendo em meio à poluição e o desmatamento, os mares estão avançando impiedosamente sobre a terra, espécies de animais e vegetais desaparecem em vertiginosa velocidade e tudo está indo para onde começou.... Para o Nada. Através dessa consciência o Homem pode remediar seu passado pródigo. Sua estrada em direção ao crescimento dá-lhe uma História. Aprender com essa História é preciso para que quando o Homem, ao chegar em sua maturidade consciente, possa reconhecer seus erros e admitir sua responsabilidade diante da mudança.

Mudança, mutação. Em sua Inteligência, o Homem, pode criar a sua imagem e semelhança um Outro. Um Outro que escolha um outro caminho, um caminho em que possa dar as mãos ao Planeta e aos dez mil seres que nele habitam, em todas as suas formas, cores e jeitos.

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